Um "Pacemaker" para o Cérebro

Alzheimer é uma doença muito conhecida pelo seu nome e também pela sua romantização em diversos trabalhos de ficção. Para além disso, é uma condição muito real e muito debilitante que até agora se encontra sem cura.

De acordo com diversos estudos (Hirtz D, Thurman DJ, Gwinn-Hardy K, Mohamed M, Chaudhuri AR, Zalutsky R. How common are the “common” neurologic disorders? Neurology. 2007 Jan 30;68(5):326-37 e Patterson C. World Alzheimer Report 2018. The state of the art of dementia research: New frontiers. London: Alzheimer’s Disease International) sabe-se que mundialmente existem pelo menos 50 milhões de pessoas a viver com esta doença, número que, de acordo com as Nações Unidas, é superior à População da Colombia. Se a sua taxa de crescimento se mantiver este número poderá alcançar os 152 milhões de casos até 2050.

Gráfico de Pacemaker providenciado pelo Centro Médico Wexner

Para prevenir o crescimento desta doença diversos profissionais, em diversas áreas, estão a trabalhar para criar inovações que poderão melhorar a vida das pessoas atingidas, a dos acompanhantes destas pessoas e ainda parar ou atrasar o desenvolvimento desta doença. No entanto, a grande maioria destas inovações têm como foco a memória, que é a capacidade mais visivelmente atacada por esta doença. No entanto, no início da presente década, investigadores do Centro Médico Wexner, que é um instituto médico pertencente à Universidade Estatal de Ohio, nos Estados Unidos, começaram a pensar numa maneira de atacar outros problemas que esta doença causa, nomeadamente, a diminuição da capacidade de resolução de problemas e a capacidade de fazer decisões.

Com este foco em mente, estes investigadores olharam para tratamentos que até à altura só tinham sido bem sucedidos em cerca de 135000 pacientes de doenças cognitivas como Parkinson, nomeadamente olharam para a tecnologia de DBS (Deep Brain Stimulation) e os seus efeitos quando usada para estimular o Lobo Frontal.

O estudo iniciou-se em 2013, chefiado pelo neurologista e na altura diretor da divisão de neurologia cognitiva do Centro, Dr. Douglas Scharre e pelo Dr. Ali Rezai, neurocirurgião e na altura diretor do programa de neurociências do mesmo Centro.

No artigo publicado no website do Centro, Rezai explica que após a cirurgia para fazer o implante, o pacemaker manda pequenos sinais ao cérebro para fazer com que este continue a regular qualquer atividade anormal no mesmo e promove também a sua normalização. Neste artigo, Rezai demonstra que os resultados obtidos no primeiro paciente eram promissores.

Radiografia de Paciente com um Implante de DBS
Radiografia de Paciente com um Implante de DBS

Este estudo tinha como data de conclusão 2015, no entanto em 20 de Fevereiro de 2018 resultados destas experiências foram publicados no Journal of Alzheimer’s Disease, vol 62. Entre muita informação, é revelado que, dos 3 participantes do estudo, todos experienciaram menores níveis de diminuição das faculdades mencionadas anteriormente, sendo que 2 dos participantes tinham uma diminuição dos níveis de perda de faculdades consideravelmente menores do que os esperados de pessoas na mesma fase de desenvolvimento da doença.

Um deste pacientes foi LaVonne Moore, 85 anos, de Delaware Ohio, que no início da experiência não conseguia fazer exercícios simples como a preparação prévia de uma refeição e após 2 anos passou a conseguir independentemente preparar refeições simples, escolher a própria roupa, e até organizar saídas, incluindo organizar o transporte, a localização e coordenar o plano com as previsões meteorológicas e quantidade de dinheiro necessário. Todas estas pequenas atividades para alguém que possui as suas normais faculdades parecem muito simples, mas para pessoas que sofrem desta doença e para os seus familiares, estes resultados não só são surpreendentes, como também são uma luz de esperança.