Por: Rafael Lopes
Não é recente a ideia de criar “partes suplentes” para substituir estruturas danificadas ou atrofiadas do nosso corpo, nem são poucas as investigações em curso a versar sobre este tema, utilizando os mais diversos métodos. No entanto, a maioria destas investigações estudam aquilo que é considerado mais essencial, como órgãos vitais. No caso da equipa da Universidade Duke na Carolina do Norte, EUA, liderada pelo Dr. Nenad Bursac, em associação com Mark Juhas, estudante de pós-graduação e primeiro autor deste artigo, publicado na revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences).
O seu foco foi criar um músculo artificial que respondia aos dois maiores problemas que todos os projetos semelhantes não conseguiam resolver. Pode um músculo ser dotado de uma grande força de contração, proveniente de fibras contráteis musculares bem desenvolvidas, quando comparado a músculos neonatais nativos de um dado espécime? Será possível criar, artificialmente, um ambiente interno viável, onde se possa armazenar células estaminais, chamadas de células satélite, capazes de substituir e regenerar tecidos musculares danificados?
Para a sua pesquisa, a equipa de Bursac usou músculos criados à base de células miogénicas neonatais de ratos.
O tecido criado não só se apresentou como uma resposta a estes paradigmas, como também se demonstrou altamente recetivo a estímulos elétricos.
A equipa comparou os implantes de células satélites, de tecidos subdesenvolvidos e ainda de tecidos completamente desenvolvidos, acabando por concluir que esta última hipótese oferecia a melhor resposta. Juhas explica, numa entrevista ao Nature World News, que a razão por detrás destes resultados é que músculos totalmente desenvolvidos apresentavam o melhor ambiente para as células satélites que continuariam em standby, preparadas para restaurar tecidos musculares pós-rutura ou atrofia.
Antes de qualquer teste in vivo, a equipa realizou vários exames para testar parâmetros biológicos concluindo que o músculo era capaz de contrair com 10 vezes mais força do que qualquer outro dos seus antecessores. Noutro teste, a equipa danificou o tecido com uma toxina proveniente de cobras e observou que este acabou por se regenerar com sucesso após o trauma, a partir destas células satélite.
Este músculo foi ainda implantado nas costas de um ratinho, possibilitando acompanhar o desenvolvimento deste músculo, como se de uma janela se trata-se. Juhas afirmou que foi possível observar o músculo a continuar a sua maturação até se igualar aos outros músculos do espécime, bem como verificar o crescimento de novos vasos a integrar este novo tecido.
Como qualquer outra investigação deste tipo, são ainda necessários mais testes, capazes de aprofundar conhecimentos relacionados com as respostas naturais ao implante de músculos como este. No artigo da Nature World News, Bursac acabou por afirmar que ainda é necessário perceber se estes músculos são capazes de ser completamente vascularizados, inervados ou se são capazes de regenerar após grandes traumas e recuperar por completo a sua função. No entanto, pode ser dito, conclusivamente, que este foi mais um passo na direção de implantes in vivo de músculos artificiais em humanos.